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Sexta, 04 Outubro 2019 08:55

Meire Saraiva é patrimônio vivo da cultura de Roraima

Conheça a história de Meire Saraiva, patrimônio vivo da cultura roraimense

 

A professora pernambucana, Meire Saraiva Lima, nasceu em 10 de fevereiro de 1947. Ela chegou a Roraima em setembro de 1950, aos três anos de idade, mas se considera autêntica roraimense. Meire têm sete irmãos, sendo filha mais velha de Pedro Saraiva Coelho, mais conhecido como Pedro Paletó (por sempre usar terno branco) e Leonilde Araújo Saraiva (Dona Nilde).

 

Devido a vida difícil no Nordeste, o irmão mais velho de Dona Nilde decidiu vir para o Amazonas trabalhar como soldado da borracha, mas foi em Roraima que conheceu o garimpo bem na época dos rumores de vida melhor por essas bandas. A atividade ajudou nas condições financeiras da família. Gostou tanto da calmaria do Estado que logo voltou ao Nordeste para buscar boa parte da família, inclusive a de Meire para morar e trabalhar na Vila de Garimpo por nome Quem, às margens do Rio Maú.

 

Na década de 50, já em idade escolar, os pais viram a necessidade de trazê-la para Boa Vista juntamente com os irmãos para estudar. Foi nesse período que cursou as primeiras séries em algumas escolas da capital, entre elas destacam-se o então Colégio São José, Euclides da Cunha (GEC), e Monteiro Lobato. Ela nem imaginava que um dia voltasse como professora, supervisora entre outras atividades, àquelas instituições. Meire era menina tímida, mas muito estudiosa, mesmo que não acreditasse que viria a lecionar um dia.

 

A veterana da cultura é apaixonada pela literatura de Roraima 

 

Lembra que aos 16 anos foi estudar na escola Monteiro Lobato, antes Curso Normal Regional Monteiro Lobato. A escola oferecia entre as disciplinas as práticas de ensino pedagógico para quem pretendia dar aula.   Por causa da distância da escola a mãe dela tinha receio de autorizar os estudos naquela instituição, mas logo acabou cedendo ao pedido da filha, após muita insistência pelo sonho de ser professora.

 

Mesmo aplicada nos estudos, ao final do curso, Meire ficou decepcionada, pois se classificou em segundo lugar na seleção e não conseguiu a vaga de emprego que tanto queria. Mas pela força do destino lecionou na Escola Afrânio Peixoto no bairro Calungá, no mesmo prédio que hoje está instalada a Escola Estadual Barão de Parima, onde teve a oportunidade de realizar parte do sonho.

 

Mas o destino lhe pregou outra peça. O pai era cabo eleitoral de oposição ao Governo e no meio da campanha política em 1967, ela foi chamada na Secretaria de Educação do Estado e recebeu a determinação do secretário para convencer o pai a apoiar o Governo de situação. De opinião forte, a jovem professora recusou o imposição e perdeu o emprego.

 

Meire tem boas lembranças do tempo de escola. Teve como colegas de turma muitos nomes de celebridade na sociedade roraimense, inclusive atuando como professora dessas personalidades. “Fico muito feliz quando reencontro pessoas daquela época que marcaram minha vida”, relembrou.

 

 

Sempre perseverante, em 1968 aceitou o convite da tia para continuar os estudos em Fortaleza. Três anos depois voltou para Boa Vista e conheceu Clemilton Lima com quem se casou no final de 1972.  Em 15 de setembro de 1981, nove anos depois, Meire teve outro golpe da vida, perdeu o marido vítima de infarto, ainda jovem com 31 anos. “Ele estava bem, não aparentava estar doente. A morte dele foi muito dura para mim. Eu era muito jovem com muitos sonhos e planos pela frente, inclusive o de ter mais filhos”, lamentou.

 

A herança e lembrança do marido foi o único filho do casal, Marcelo, fruto dessa união. O menino tinha apenas três anos quando ela ficou viúva. Meire conta emocionada sobre a dedicação do filho. “Ele me liga várias vezes ao dia, preocupado com a violência no trânsito. Quer que eu pare de dirigir, o que é difícil, pois sempre fui independente”, sorriu.

 

Ela teve outros relacionamentos, mas decidiu viver sozinha por causa da rotina e hábitos independentes. “Eu achei melhor assim. Ia ter que me prender às obrigações com a vida de casada, logo eu que nunca gostei de trabalhos domésticos, prefiro trabalhar fora”, comentou.

 

Meire tem outra paixão, a neta Laira de 24 anos, a cria como filha. A neta, em contrapartida, faz companhia à avó. “Ela está comigo desde que nasceu. Quando meu filho se separou da mulher, ela ficou comigo e me faz companhia até hoje”, disse.

 

Aos 72 anos Meire Saraiva já passou por muitas experiências, entre elas o advento da tecnologia que tem melhorado a vida das pessoas, mas confessou que ainda encontra dificuldades com as novas ferramentas. “Às vezes peço ajuda dos colegas quando preciso mexer com a internet. Acho incrível a facilidade de acesso para trabalhar, inclusive, já encontrei muitos amigos antigos pelas redes sociais”, disse entusiasmada.

 

Trabalho - Meire Saraiva é servidora federal aposentada há três anos. Em 1989 foi convidada pela Secretaria de Educação do Estado para trabalhar na Subdivisão de Etnografia e Folclore, do então Departamento de Cultura – hoje Secult. Ela é Conselheira de Cultura da Câmara de Patrimônio até dezembro de 2019 e já aguarda a segunda aposentadoria. Ao mesmo tempo lamenta por deixar o que mais gosta de fazer, cuidar do Patrimônio Histórico de Roraima.

 

Há trinta anos no mesmo cargo, a veterana e guardiã da cultura explicou o que falta para melhorar o desenvolvimento do segmento cultural no estado e deixa o recado aos futuros gestores.

 

“A cultura fica sempre em segundo plano, deixada para depois. Primeiramente precisa da vontade política e compromisso. Tem que estudar, conhecer e mergulhar de cabeça no que se propõe a fazer. Estar ciente que vai lidar com coisas antigas, frágeis devido ao tempo e buscar na história o que vai deixar para as futuras gerações. Como toda profissão é preciso dedicação”, enfatizou.

 

Durante o período em que está à frente do setor, muitos materiais históricos foram resgatados e que hoje estão à disposição da sociedade. “Temos um acervo fotográfico, a maioria cópias. Recebemos doações de fotos de muitas pessoas, inclusive outras pessoas fora de Roraima também enviam material ao nosso acervo. Temos fotos do primeiro hidroavião em pouso no Rio Branco; da Fazenda São Marcos; do monumento Forte São Joaquim, o único tombado a nível federal e, alguns monumentos estaduais; muitos documentos e livros encadernados que recontam as histórias do nosso patrimônio”, informou.

 

Meire Saraiva é patrimônio vivo da cultura material e imaterial de Roraima.